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Adaptação de HQ inspirada pelo Pulp e expressionismo alemão acaba de chegar à Netflix

No ano de 517 d.C., em plena Idade das Trevas, uma guerra que parecia não ter fim levava homens e criaturas a se trucidar uns aos outros na Grã-Bretanha. Vivienne Nimue, a bruxa mais poderosa de todos os mundos, é perseguida pelos homens do rei Arthur até sem encurralada sob um carvalho em Pendle Hill, noroeste do que é hoje a Inglaterra, traída por Ganeida, uma sua discípula nas artes dos sortilégios que aprendera do próprio Lúcifer, e desse ponto em diante, “Hellboy” vai se ressentindo cada vez da ausência de Guillermo DelToro, que fez do primeiro longa, em 2004, um marco do terror fantástico que virou sua grife em Hollywood.

Justiça se lhe faça: a introdução, momento em que personagens secundários esmeradamente construídos tratam de fornecer ao público as explicações rudimentares sobre o enredo, daria um filme à parte, graças a fotografia matadora de Lorenzo Senatore, que confere um incômodo protagonismo à bruxa de Milla Jovovich, esplendorosa num manto vermelho-sangue enquanto o lendário líder britânico do início do século 6º, Merlin, seu conselheiro, e a jovem bruxa que delata Nimue permanecem sempre num sóbrio preto e branco.

Jovovich, Mark Stanley, Brian Gleeson e Penelope Mitchell cozinham os acontecimentos em fogo baixo até que Neil Marshall leva a narrativa para Tijuana, a maior cidade da Baixa Califórnia, no México, o que não deixa de ser um sintoma do empobrecimento da franquia no transcurso de década e meia. É lá, num ringue clandestino de luta-livre, que o personagem-título vai tentar convencer o espectador que ainda merece um filme para chamar de seu.

Mulheres que sabiam demais, que não dependiam dos homens, que não viam nenhum conflito moral em avançar sobre o que a sociedade lhes interditava já foram hostilizadas, perseguidas, foram lançadas ao fogo e renasceram das cinzas para fazer um inferno da vida de gente hipócrita, tacanha, nefasta. Muito ainda vai se falar sobre feiticeiras e seus rituais de encantamento para todos os fins possíveis. 

Lamentavelmente, o roteiro de Andrew Cosby, adaptado dos quadrinhos de Mike Mignola, não tem a pretensão de se aprofundar na tragédia de Nimue, e tampouco Hellboy, o monstrengo gente fina que troca de celular com a mesma frequência que uma pessoa normal troca de roupa ao longo de uma semana de verão — o diretor se atém sobre esse drama tão particular de seu anti-herói numa cena tão breve quanto engraçada —, é capaz de sustentar uma megaprodução de duas horas, malgrado o carisma de David Harbour, irreconhecível, mas à vontade na pele de tipos, digamos, excêntricos, conforme já pudera demonstrar com muito mais brilho em “Fantasma e Cia” (2023), que contava os descaminhos de Ernest, o simpático espectro do conto homônimo de Geoff Manaugh, por mais que sempre entrasse mudo e saísse calado.

Também aqui, Harbour se socorre de expressões faciais que não raro acabam incompreendidas dada a constituição naturalmente caótica de “Hellboy”, na Netflix. Del Toro continuaria a ser o homem certo? Nunca saberemos; de uma forma ou de outra, Marshall faz promessas ambiciosas demais, cumpridas parcialmente graças à tecnologia. 


Filme: Hellboy
Direção: Neil Marshall
Ano: 2019
Gêneros: Ação/Fantasia
Nota: 7/10

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